Ameaças aos ecossistemas costeiros são tema da Caravana do Defeso em Valença
A Caravana do Defeso chegou a Valença (123,9 quilômetros de Salvador) nesta terça-feira (19), promovendo um importante debate sobre as ameaças aos ecossistemas costeiros e a necessidade de conservação da biodiversidade marinha. A iniciativa, coordenada pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) percorre municípios da Baía de Todos-os-Santos e do Baixo Sul, fortalecendo o diálogo com pescadores, marisqueiras e comunidades tradicionais.
O encontro reuniu pescadores, marisqueiras e lideranças comunitárias para debater questões cruciais como a poluição, o desmatamento de manguezais, a bioinvasão e a pesca fantasma. Durante as discussões, especialistas e membros das comunidades compartilharam experiências e soluções para enfrentar esses desafios.
Segundo Carla Andrade, técnica do Inema, a degradação dos manguezais impacta diretamente a reprodução de diversas espécies, incluindo o caranguejo-uçá, fundamental para a manutenção do equilíbrio ecológico e para a economia local. “Os manguezais são berços naturais da vida marinha. A retirada de vegetação para ocupação desordenada e o descarte irregular de resíduos ameaçam esse ecossistema essencial”, alertou.
Moradores da região também expressaram preocupação com os perigos desconhecidos no mar. Damiana da Silva, pescadora local, destacou: “A gente que vive da pesca sabe da poluição, das dificuldades enfrentadas todos os dias, mas não sabe o perigo que está lá embaixo. Para mim, foi uma honra ter vocês aqui, nos orientando sobre como preservar espécies que tanto nos beneficiam”.
Já para Francisco, conhecido na região como Chico do Gelo, diretor de pesca do município de Valença, o encontro é fundamental porque traz clareza sobre a necessidade de preservar as espécies durante o período de defeso. “Se não houver conservação, essas espécies podem se extinguir, afetando diretamente os pescadores e marisqueiros que dependem delas. Estamos aqui para disseminar esse conhecimento e garantir a continuidade dessa atividade”, disse.
Outro tema abordado foi a pesca fantasma, que ocorre quando redes e apetrechos de pesca abandonados continuam capturando animais marinhos de forma acidental. Representantes de colônias de pescadores ressaltaram a importância da educação ambiental e de programas de reciclagem para minimizar esse impacto.
Bioinvasão e novas ameaças
A bioinvasão foi um dos temas centrais da roda de conversa, abordando a introdução de espécies exóticas que ameaçam a fauna e a flora locais. Alice Reis, oceanógrafa e coordenadora de gerenciamento costeiro da Sema, explicou que espécies como o coral-sol e o coral-mole já foram identificadas na Bahia e estão sendo monitoradas para evitar sua expansão. “Esses corais competem com as espécies nativas e prejudicam a interação entre peixes e recifes. Os peixes não reconhecem esses corais invasores e acabam perdendo seu habitat natural, afetando toda a cadeia ecológica”, alertou.
Outro ponto de grande preocupação mencionado foi o avanço do peixe-leão, espécie recentemente identificada na costa baiana. Esse peixe contém 18 espinhos venenosos que podem causar dor intensa, inflamação e reações alérgicas severas. “Quem joga e puxa rede muitas vezes não percebe o que está capturando. Mas esse peixe machuca!”, alertou Alice, orientando os pescadores a evitar o contato direto e não devolvê-lo ao mar.
Além da bioinvasão, o encontro em Valença também abordou outras ameaças à zona costeira, como poluição, desmatamento e pesca predatória por bomba e arrastão. Nos próximos dias, a Caravana do Defeso segue para Camamu (20) e Jaguaripe (21), fortalecendo o diálogo com as comunidades pesqueiras e promovendo ações de conscientização ambiental.
A população pode colaborar na fiscalização de atividades ilegais e denunciar infrações ambientais ao Inema por meio do telefone 3510-0607 ou pelo e-mail denuncia@inema.ba.gov.br.
Ascom INEMA Foto: Matheus Lemos/Ascom Inema