“A roupa nova do rei” na terra dos mausoléus
Qual será a atração que virá para Valença por ocasião dos festejos dos 100 dias de nova gestão?
Valença já pode reivindicar o título de município com o povo mais paciente do mundo por carregar tantos mausoléus.
Lá se vão 3 meses de um governo novinho em folha, e a obra mais vistosa da gestão é a quantidade de conteúdos espalhados nas redes sociais das novas “roupas” que o rei, apaixonado por câmeras e microfones, escolhe vestir para os olhos da população.
Então, a pergunta inicial é óbvia. Qual o próximo show? Que atração vai dar conta de distrair a atenção das providências mais simples ainda não tomadas? A tarefa “basicona” de organizar a bagunça da cidade não pode ser anunciada como cumprimento de metas, ainda que uma etapa delas, visto que esse é um processo de médio e longo prazo.
Só para dar um exemplo, nem uma palavra sobre o mausoléu da orla, que segue transbordando incômodos à populacão, sem falar da vergonha por uma obra condenada ao cemitério das promessas de um grupo político que hoje governa a cidade e que se elegeu alardeando como vantagem estar consorciado com o governo estadual.
Depois de exibir nas redes sociais um card anunciando “Bye, bye, mausoléu do calçadão”, sem nem se dar ao trabalho de esclarecer a qual “mausoléu” estava se referindo, ou até mesmo que é um mausoléu, não tem como não lembrar dos tantos mausoléus que a cidade carrega há anos, escondidos nas fachadas da propaganda e da conivência dos convenientes.
Enquanto a corte se instala com suas contingências e emergências sem transparência, os elogios radiofônicos se sucedem, assim como nas redes das províncias e confrarias como verdadeiros puxadinhos, a população continua tendo que dormir e acordar com seus mausoléus: atraso, improviso gerencial, falta de transparência, decisões equivocadas, recuos repetidos, figuras ultrapassadas sem conhecimento das reais necessidades da população e claro, alguns “bobos da corte”.
Mas há também quem diga que “nunca se fez tanto em tão pouco tempo”, numa terra que parece ter se acostumado a conviver com a ineficiência, cheia de frustrações, carências, desgostos e enormes expectativas.
A ironia dos cem dias é que, quem era pedra, hoje virou vidraça, agora com uma tolerância mais curta da população, que pode encurtar ainda mais após um centésimo dia, se continuar esse gosto de monotonia, podendo virar desilusão.
Até lembra o conto “A roupa nova do rei”, de Hans Christian Andersen, que, apesar de ter sido escrito em 1837, se aplica muito na realidade de Valença. Num reino de um soberano vaidoso, mais preocupado com roupas novas e desfiles de aparência, do que com as mazelas dos seus súditos, só há duas alternativas: o povo se fingir de cego e aceitar os exibidos “sepulcros caiados”, ou perder a paciência, sair da multidão e gritar mais alto que os algoritmos fantasiados das redes sociais: Valença, “o rei está nu”!
Referência:
- “A roupa nova do rei” – Hans Christian Andersen. Clique para ler: roupa_nova_rei-texto
- “Bye, bye”: tchau, tchau, adeus.
- “Mausoléu”:construção funerária de dimensões avantajadas que serve como um monumento para guardar os mortos.